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Ir. Maria Inês: “é um avanço o Papa colocar cada vez mais mulheres ao serviço da Igreja”


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Padre Modino 

Segundo a irmã Maria Inês, o novo serviço “representa, acima de tudo, um gesto de confiança de Deus, do Papa Francisco, à Vida Consagrada”. Ela, que é presidente da CRB desde 2016, diz que “é uma continuidade daquilo que venho já realizando como consagrada, como responsável pela nossa Conferência”.

Irmã Maria Inês Vieira Ribeiro, que faz parte da Congregação das Mensageiras do Amor Divino, pretende mostrar o que ela tem descoberto na realidade brasileira. Segundo ela, trata-se “de uma Igreja servidora, de uma Igreja sinodal, de uma Igreja aberta para os pobres, uma Vida Consagrada que estamos insistindo cada vez mais para o compromisso de fidelidade ao Evangelho e ao carisma de cada Instituto”.

A religiosa vê o desafio de caminhar juntos, na tolerância e no respeito. Nas suas palavras, ela destaca que o Papa Francisco “desejou fazer um colégio de consultores numa paridade, que seja o mesmo número de homens e mulheres, para que possamos dar o nosso contributo”, algo que para a irmã “tem um significado muito forte, porque nós temos diferenças, a psicologia feminina é diferente da psicologia masculina, e nós temos que encaminhar isso com igualdade”.

Segundo a presidente da CRB, onde a vida “está mais sofrida e ameaçada, é o nosso lugar”. Junto com isso, insiste na necessidade de a Igreja escutar o laicato e a vida religiosa feminina, algo que ela vê estar sendo feito pelo Papa Francisco, que “está vendo que a Igreja não pode caminhar só com as pernas masculinas”.

A senhora acaba de ser nomeada pelo Papa Francisco como consultora da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica. O que representa esse novo serviço que a Igreja está lhe pedindo?

Para mim representa um gesto de confiança da Igreja, em primeiro lugar. Um novo chamado de Deus para minha vida consagrada, porque está sempre nos chamando cada dia à fidelidade, ao compromisso, às respostas mesmo, na generosidade. Para mim representa, acima de tudo, um gesto de confiança de Deus, do Papa Francisco, pela Vida Consagrada.

Quase para mim é uma continuidade daquilo que venho já realizando como consagrada, como responsável pela nossa Conferência. Para mim é uma confirmação, um ato de confiança.

A Vida Religiosa no Brasil tem coisas a aportar para a missão da Vida Religiosa na Igreja universal. O que a senhora pensa que, a partir de seu novo serviço, pode aportar como representante da Vida Religiosa no Brasil para a missão da Vida Religiosa no mundo?

Conforme a orientação da Congregação dos Religiosos, do Dicastério, a orientação que recebi exatamente é esta: eu vou receber consultas sobre diversos e variados assuntos que surgirem para a Congregação dos Religiosos, serei consultada a dar a minha opinião. Com certeza, eu vejo que na medida que a gente abre o coração, abre a boca para dar uma opinião sobre qualquer assunto, seja no nossos país ou para o mundo, será a partir da experiência de vida, da minha comunhão com Deus, da minha fidelidade ao Evangelho, darei a minha opinião, porque justamente essa é a missão, de consulta.

Serei consultada, como diz Dom João Braz de Aviz, para as diversas situações, receberei correspondência, comunicados, e participarei de assembleias que acontecerão em Roma para todos os consultores e consultores. Para mim, o posicionamento, a resposta, como uma consagrada do Brasil, claro que vai a partir da nossa experiência também, de uma Igreja servidora, de uma Igreja sinodal, de uma Igreja aberta para os pobres, uma Vida Consagrada que estamos insistindo cada vez mais para o compromisso de fidelidade ao Evangelho e ao carisma de cada Instituto.

Um desafio grande também, porque estamos vivendo situações difíceis, não só na Vida Consagrada como na Igreja. O momento agora é de dor, é de dificuldade, de problemas, que estamos vivendo na Igreja do Brasil face à Campanha da Fraternidade e outras situações. Mas eu acredito que responderei com a experiência de vida que o Senhor já me concedeu.

Em que deve insistir a Vida Religiosa na missão da Igreja? Quais, segundo a senhora, deveriam ser os principais aportes e os principais desafios a serem enfrentados?

Um dos principais desafios que colocaria é justamente esse caminhar juntos, essa tolerância, o respeito. O próprio Dom João Braz me disse no telefone ontem, irmã, isso é coisa do Papa Francisco, ele que desejou fazer um colégio de consultores numa paridade, que seja o mesmo número de homens e mulheres, para que possamos dar o nosso contributo.

A Vida Consagrada no Brasil e no mundo deve existir sobre esse caminhar juntos, sobre esse respeito às diferenças, sobre esse amor verdadeiro às diferenças, às pessoas, amar cada vez mais as realidades que nós vivemos mais sofridas, estar onde a vida está ameaçada, este é o lugar da Vida Consagrada. Para mim temos que insistir aí, porque realmente, onde ela está mais sofrida e ameaçada, é o nosso lugar. Não precisamos ficar colocando a Vida Religiosa no destaque, no pedestal, à luz dos holofotes, mas a Vida Consagrada encarnada, inserida, humilde, simples. Esse é o grande desafio, tanto para a Igreja como para a Vida Consagrada.

A senhora fala da insistência do Papa Francisco na paridade nesse conselho de consultores entre homens e mulheres. Recentemente, uma religiosa foi nomeada subsecretária do Sínodo para os Bispos, e em consequência disso, ela vai ser a primeira mulher a votar num Sínodo para os Bispos. Para a vida religiosa feminina, o que significam esses passos que o Papa Francisco está dando nos últimos anos?

Isso tem um significado muito forte, porque nós temos diferenças, a psicologia feminina é diferente da psicologia masculina, e nós temos que encaminhar isso com igualdade. Para todos os assuntos da Igreja, da sociedade, nós temos que ter a presença masculina e feminina, justamente para alcançarmos os objetivos, numa comunhão, numa unidade e no consenso. Eu acredito que as diferenças ajudam exatamente a encontrarmos respostas mais coerentes.

Na nossa Igreja ainda falta muito para ter essa escuta do laicato e da vida consagrada feminina principalmente. Esta realidade do Papa Francisco é uma luz, é um homem muito lúcido, ele está vendo que a Igreja não pode caminhar só com as pernas masculinas, nós temos que caminhar juntos. A contribuição feminina, tanto leiga como consagrada, ela é muito importante para a caminhada da sociedade, da Igreja e da Vida Consagrada.

Nós vemos que no campo civil, as mulheres estão ocupando todos os espaços, e na Igreja ainda não. Nós no Brasil, temos uma voz tão grande com relação à participação da mulher, quanto tempo que nossa Igreja já tem mulheres leitoras e acólitas, e agora que saiu o Documento oficial liberando, vamos dizer assim, as leitoras e as acólitas na Igreja. Nós demos passos já, mas nosso contributo é para a Igreja universal, para toda a Igreja, esse contributo da parte feminina da Igreja, sejam as leigas, sejam as consagradas.

É uma lucidez, uma clareza e um avanço o Papa Francisco querer colocar cada vez mais, mulheres no serviço da Igreja. Talvez eu não veja mais avanços, mas precisamos. Há as vezes retrocessos, há recuos, as dificuldades, mesmo dentro, como disse hoje Dom José Negri, bispo de Santo Amaro, que é o presidente da comissão para a proteção de crianças e adolescentes e pessoas vulneráveis, ele dizia, o doloroso para nossa Igreja é a polarização dentro da Igreja. Gostaríamos todos que formássemos realmente uma Igreja uma, santa, católica, mas nós vemos esse sofrimento também na Igreja hoje.





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